Novas pesquisas científicas explicam nosso apego aos animais
de estimação. Donos sofrem – e até se internam – com seus pets nos hospitais
universitários
Por: MARCELA BUSCATO E NATHALIA ZIEMKIEWICZ
>>Trecho da reportagem de ÉPOCA desta semana que está
nas bancas
As ideias do filósofo americano Henry David Thoreau sempre
estiveram à frente de seu tempo. Ele morreu em 1862, a três anos de ver a
Constituição americana oficializar a proibição da escravidão, uma das causas
que defendera. Interessado nas interações humanas com a natureza, foi um dos
precursores dos conceitos de ecologia e ambientalismo. Sua filosofia da desobediência
civil – a resistência aos atos de governos injustos – influenciou líderes como
o pacifista indiano Mahatma Gandhi. O pensamento de Thoreau permanece atual
também num dos aspectos essenciais da vida moderna, quando trata da relação
entre humanos e seus animais de estimação. Thoreau escolheu viver no campo, à
beira de um lago, para desfrutar a vida simples. Lá, depois de observar os
vizinhos e seus animais, chegou a uma conclusão que ainda hoje resume a relação
do Homo sapiens com seus bichos domésticos: “Com frequência, um homem é mais
próximo de um gato ou de um cachorro do que de qualquer outro ser humano”.
Desde os tempos de Thoreau, muita coisa mudou – mas esse
aspecto da vida moderna apenas confirmou a percepção do filósofo. Os animais
tornaram-se parte da família. Numa pesquisa recente, nove em cada dez pessoas
ouvidas nos Estados Unidos afirmam que seus sentimentos pelos animais
domésticos são semelhantes àqueles que nutrem pelas pessoas mais próximas. Para
os amantes dos bichos, é apenas a constatação do óbvio. Para quem não gosta de
intimidade com os animais, é um desvio de comportamento a ser explicado por
psicólogos. Como é possível o sentimento por animais rivalizar com o apego às
pessoas?
No recém-lançado What’s a dog for? (Para que serve um cão?,
sem edição no Brasil), o jornalista americano John Homans investiga as
explicações científicas e filosóficas para a “estranha situação de ter um
predador em sua casa, deitado de barriga para cima, esperando alguém lhe fazer
cócegas”. Em outro livro recente, também sem tradução no Brasil, Another insane
devotion (algo como Outra devoção insana), o americano Peter Trachtenberg narra
a procura por sua gata Biscuit, metáfora para seu casamento em crise. Ele
descobre que o amor por Biscuit e o amor pela mulher guardam pontos em comum.
Goste-se ou não, a elevação do status dos animais a
integrantes da família está aí. Basta passear pelos perfis de amigos e parentes
nas redes sociais para constatá-lo. As fotos do cachorro disputam espaço com as
do bebê. As declarações de amor aos animais se sucedem em cascata. Vídeos que
capturam a fofurice de cãezinhos e as proezas de bichanos – já viram os gatos
cantores? – são campões absolutos de audiência. A oferta de produtos e serviços
para os bichos de estimação é mais um indício de amor desmedido: há de padaria
a manicure especializada, num mercado que movimenta R$ 12,5 bilhões por ano no
país. Estima-se que os brasileiros, donos de 101 milhões de animais domésticos,
gastem R$ 400 mensais em cuidados com eles.
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